Sentou-se meio curvado defronte a televisão, mas sequer sabia o que lá passava. Não por desatenção, natural das crianças daquela idade. Franzia as pequeninas sobrancelhas e contorcia os lábios...gesto quase próprio dos adultos. Preocupado, ele estava.
Quando, de longe, ouvia as lágrimas escorrerem, levantava-se vagarosamente e encarava-a. Ela podia enxergar o afeto naqueles olhos graúdos e amendoados, mas sentia tanta pena de si mesma que não tinha forças para percebê-lo naquele momento.
Ele lá ficava. Vez por outra colocava a mão no queixo ou soltava a respiração. Parecia saber que mais palavras não adiantavam.
Os minutos foram passando e, aos poucos, ela foi recobrando a 'imponência dos mais velhos'. Teve coragem para olhá-lo, enfim, e viu. Ela deve ter passado muito tempo naquele estado de desligamento. Tinha diante de si tanta maturidade que não soube precisar qual dos dois era mais 'vivido'. Colocou as pálidas mãos sobre os joelhos, abaixou-se até que ficassem da mesma altura e perguntou, perdida, ao homenzinho:
- O que se há de fazer?
Pediu ajuda.
Ele foi até a cozinha, trouxe-lhe um copo de água.
- Não sei. Eu só tenho 10 anos.
Sentou-se meio curvado defronte a televisão e absorto ficou com o seu quinto desenho animado favorito.
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Queria ter só 10 anos também.