Primeiro foram os pratos. Dois quebravam-se de uma só vez a um simples deslocar de objetos dentro do armário da cozinha. Depois, os talheres. As colheres eram as primeiras a deseparecer sem vestígios, e então as facas e garfos. As xícaras também logo viraram cacos de vidro fugidos para debaixo das cadeiras.

Eles nem pareciam se importar muito. Acusavam-se mutuamente de descuido, desleixo e desatenção com os utensílios domésticos. Compravam novos e a durabilidade reduzia cada vez mais...

A decadência foi aos móveis da sala, às cadeiras da cozinha, aos azulejos do terraço, ao box do banheiro e aos estrados da cama. Que se pode lembrar, nada sobrou e eles ainda não ligavam. Ela, qualquer coisa mais melancólica, pusera a culpa desde cedo na má qualidade do que foi comprado. Ele esbravejava para parecer preocupado e, cinco minutos mais tarde, teria esquecido o problema. O fato é que a eles não parecia ser o que era.

Por último, foram os interruptores. Tomadas, extensões, o que fosse. Nada funcionava, talvez um curto circuito explodisse o último benjamim são, aquele amarelo. Fizesse o que se fizesse, a energia foi perdida. Mas aí eles já sabiam o que fazer, agora o reconheciam. Anunciava-se a tanto tempo, de tantas formas, porém não são todos que percebem a sutileza.

Então partiram os dois. Cada um sendo um só, sabendo que não existiam mais os dois. Passaram em silêncio pela última porta, que não fechava há meses, e sequer se olharam. Não havia mais o que ser dito, ou apontado, ou acusado, ou discutido. Estavam finalmente conscientes do fim.
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As coisas são muito assim, frutos da influência do pensamento.

Acreditem ou não, a energia cósmica do pensar positivo tem efeitos consideráveis sobre as ações e, consequentemente, seus resultados.

Esoterismo (ou exoterismo, agora não lembro qual dos dois se encaixa aqui) é inegavelmente presente até no cotidiano dos mais céticos e desacreditados. Digo pelo desempenho impressionante que o antagonista desse enredo possui, o pensamento negativo.

Cheguei a um ponto em que esse dualismo virtual se confunde de tal forma que nem sei. Só digo que parei para ouvir todas as personagens dessa tragicomédia. A encenação fica por conta dos ninguéns preexistentes que imaginei. Ás vezes, eles falam todos ao mesmo tempo e eu me pergunto por quê. Por que se nem ao menos temos platéia? Eles me respondem? Ignoram. Continuam a falar, e a resolver minha vida, e a projetar minha vida...Não paro mais para escutá-los, resolvo. Até o próximo minuto de distração, quando eles me parecem melhores, mais atrativos. Veem? A força da positividade. E eu me descubro tão fraca para ser realista...



Acordei brega hoje.
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Mais do que engraçado. São tão hilários e soam tão distantes os meus deslumbres. Delírios quase inocentes. Alguns são ambições tão vagas...Pudera eu...pudera eu viver dos royalties das histórias que gosto de contar, gostassem os outros ou não de lê-las.

Já falei como gosto das lojas de conveniência? Meus pequenos desejos dividem um espaço de 3 ou 4 metros quadrados. Todas as balas do mundo cuidadosamente dispostas no balcão, atrativas embalagens e os novos sabores refinados. Petit gateau a dez centavos, juro que vi. Até o estúpido macarrão instantâneo me aprece tão mais atraente lá dentro...Talvez seja pelo branco cirúrgico do chão ou pelo cheiro de capuccino com empada e sorvete que sinto a centímetro. Essas lojinhas, sempre aí a evocarem todas aquelas minhas vontades que sei lá quando se tornarão reais ou se sequer sairão do plano das sinapses.

O certo é que um passo adiante na conveniência me faz absorta em uma série imprecisa de pensamentos pseudofelizes e realizáveis. Adoro os neologismos. Pelo que vejo, é lá que meu inconveniente inconsciente desponta. No momento, então, logo desejo as viagens, e a despreocupação, e o caos itinerante, e o ser intransigente, e a alma...e a falta dela...

Mais do que engraçado. Admirável como perco o nexo da mesma forma que a nicotina se dissipa no ar depois de um trago de cigarro. Ela e outras drogas, mais as moléculas de carbono, hidrogênio e oxigênio, todas agregadas, circunscrevendo a áurea dos corpos próximos, estejam acostumados ou não. Eu disse que não me importava, ainda que insistisse em afastar os átomos invisíveis todos com a mão. Disse que não me importava, mas gostava das mãos e dos movimentos que elas faziam despreocupadamente ou com certa intenção. O meu trejeito favorito era o do trago enquanto refletia sobre as tropas. Danem-se as moléculas dissolvidas nesse ar que me faz passiva, eu pensava, danem-se...

Cidades que sequer lembrava me passam a ser tão urgentes de conhecimento agora...E coisas e pessoas dessa cidade...Mas que...esses deslumbres e esses delírios...Dois dias lhe são suficientes? A mim sim. Fica sempre algo por fazer, mas ainda assim...
Desperto defronte à todas as balas do mundo. Duas ou três, dessa vez. Quatro dessa aqui, por favor. E saio com o bolso trotando de moedas e 6 xícaras de café envoltas em papel brilhante, depois de cálculos melhorados somados à falta de troco. O ar quente anuncia a porta aberta e, finalmente, deixo todas as moléculas sinápticas e os pedacinhos de não sei o que para trás. Mais do que engraçado. Já disse como gosto das lojas de conveniência?
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