Traz aqui, Glorinha, um copo d´água e um colo querente de corpo cansado.

Hoje eu tô só meio. Hoje tô só metadinha.

Desde madrugada rolo que nem cachorro doido na cama. Fui eu que cutuquei o sol dizendo que já era hora de levantar.

Mas olhe, Glorinha, que caminhei tanto que as tiras da sandália ficaram frouxas e as batatas das pernas se esticaram.

Pois vim. Vim de lá de longe porque tinha saudade. E saudade você sabe, Glorinha, ou a gente se desenrola ou é enrolado por ela. A danada me deu um laço tão bem dado que tava mesmo era sufocado. Sentou foi aqui, ó, em cima do peito. Tava que não conseguia me virar pros lados. Tive que vir.

E pra vir, Glorinha, tive que andar um tanto amarrado ainda. Até que chegando mais perto, os braços dela foram se desfalecendo, foram se deixando cair. Aí eu puder correr mais. Aí eu pude chegar direito. Pulei cerca de três cercas pra encurtar caminho, pra não ter conversa. Então cheguei assim, de coração e pulmão na mão.

Mas venha cá, Glorinha, com o copo d'água e esse colo. Ainda quero ficar inteiro e dessa tal de saudade não levo mais rasteira, nem laço, nem abraço.

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Um gosto de cidade na boca.

A cabeça avenida de ideias,

O coração esquina de aperto.

Para tudo na vida há concreto.

Dor a gente cura com asfalto.

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Ele é um dia de silêncio e todos os bons ruídos ao mesmo tempo.

É silêncio porque as melodias podem estar erradas, o tom pode desafinar e as notas não se entenderem.

É silêncio porque não sei dizê-lo e as palavras são desnecessárias.

Noite passada sonhei que amava e era tudo silêncio, como só ele sabe ser.

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