2011 logo vai-se e ainda estou em dúvida se me despeço saudosa. Esse ano, aliás, nunca estive tão propensa a isso. Despedi-me, despediram-se de mim e despedimo-nos. Até hoje não me considero preparada para tantos adeusinhos e até logos, porém dedici tirar vantagem disso e nasceu "A Passageira", que aguarda no Terminal 2 a chegada de 2012 e sua ida para as telas.

Ainda estou em dúvida se me despeço saudosa, mas esse ano fiz-me e desfiz-me em saudade. Deixei Teresina por um amor de carnaval pra vida toda chamado Rio de Janeiro. Estive em blocos de colombinas, soltei rolos e rolos de serpentina cinematográfica, conheci aqueles que fizeram para mim chuva de confete o ano inteiro, chorei rindo e ri chorando marchinhas. Irmãs de alma, amigos de vida. Cada passo, seja certo ou bêbado, dado por esses meses que já se foram nunca estive sozinha.

Hoje, ainda estou em dúvida se me despeço saudosa e se minha casa é lá ou cá. Mas ora, minha casa é onde estiverem eu e todos esses meus pedaços inteiros que vou encontrando, seja lá ou cá. Minha casa é onde eu possa saber que meu irmão aprendeu a andar de bicicleta. Minha casa é onde eu possa sentar no sofá com a Raquel e rir até não poder mais de qualquer coisa tola que passe na televisão. Minha casa é onde eu possa ouvir o Cézar falar até o saquê acabar. É onde mamãe vigia o tanto de margarina que eu coloco no cuscuz. É onde papai me chama de nenénzinha réa e logo depois fala da fatura alta do cartão de crédito. É onde a Ana Clara chega com um corte de cabelo cada dia mais moderno. Onde eu sento em uma mesa pra ouvir Caio, Lívia, Wilton, Irina, Filipe. Onde Rachel me acusa de displicência, mas diz que me ama mesmo assim e Sheyla, com seus 5 empregos, me liga dirigindo em auto estrada e comendo de hashi como se todo mundo fizesse o mesmo. Onde Paula e Adriana aprendem que gatan e gaton nem sempre querem dizer literalmente isso. Onde Sanmya continuar rindo na cara dos problemas, mesmo que eles continuem brotando loucamente.

Ainda, ainda mesmo estou em dúvida se me despeço saudosa, mas tenho certeza que fui amor. E estive tão em festa, tão inquieta, tão zangada, tão insone, tão feliz. Por isso, minha casa é também com José, aonde ele puder segurar minha mão para atravessar a rua ou onde ele puder ligar só para desejar boa noite, ou ainda onde ele ficar o dia todo de pijama porque o tempo está feio. E lá do outro lado do oceano, cuidei e fui cuidada. Para hoje e amanhã, pretendo continuar cuidando.
Esse ano eu. Esse ano nós. Esse ano a gente. Ano que vem tem mais.
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No último dia 26, conheci a saudade.

Ela que tão distante parecia, tão alheia, queria agora ficar-me por baixo da pele.

Tentei negar-lhe a intimidade. Não sou muito dada à aproximação com estranhos.

Ali mesmo, no aeroporto, dei-lhe as costas. Ordenei que não me seguisse até o ponto de ônibus.

Sentiu-se ultrajada. A perversa cravou-me as unhas no peito e então compreendi porque as trazia tão compridas. Arrastou-me até em casa e colocou-me no colo aquela noite para que chorasse todas as outras em sua companhia que ainda estão por vir.

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Digo eu que não sei cantar a saudade, então conto.

Conto todos os cantos e todos os contos de cantos que cantam para a saudade contar. Canta ela, que eu não sei contar cantos. Conto eu que ela não sabe cantar contos. Cantamos e contamos a conta, o canto, o conto.

Digo eu que não sei cantar a saudade, então tanto e ela tonta.

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Tudo se fazia tão maior por conta dos pequeninos fatos. O ranger do assoalho e a sutil alegria de saber que estavam os dois acordados.

Dançavam uma valsinha de bom dia enquanto as torradas aprontavam-se a qualquer gosto. Eram risadas frouxas com gosto de margarina de espantar as nuvens que teimavam em cobrir o dia.

Entrelaçados estavam por dentro, bem aqui dentro do lado de fora. Café da manhã e almoço. Lanche da tarde e jantar. Eram-se. Estavam-se. Bastavam-se.

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