Traz aqui, Glorinha, um copo d´água e um colo querente de corpo cansado.

Hoje eu tô só meio. Hoje tô só metadinha.

Desde madrugada rolo que nem cachorro doido na cama. Fui eu que cutuquei o sol dizendo que já era hora de levantar.

Mas olhe, Glorinha, que caminhei tanto que as tiras da sandália ficaram frouxas e as batatas das pernas se esticaram.

Pois vim. Vim de lá de longe porque tinha saudade. E saudade você sabe, Glorinha, ou a gente se desenrola ou é enrolado por ela. A danada me deu um laço tão bem dado que tava mesmo era sufocado. Sentou foi aqui, ó, em cima do peito. Tava que não conseguia me virar pros lados. Tive que vir.

E pra vir, Glorinha, tive que andar um tanto amarrado ainda. Até que chegando mais perto, os braços dela foram se desfalecendo, foram se deixando cair. Aí eu puder correr mais. Aí eu pude chegar direito. Pulei cerca de três cercas pra encurtar caminho, pra não ter conversa. Então cheguei assim, de coração e pulmão na mão.

Mas venha cá, Glorinha, com o copo d'água e esse colo. Ainda quero ficar inteiro e dessa tal de saudade não levo mais rasteira, nem laço, nem abraço.

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One Response so far.

  1. Liv. says:

    E quando a saudade senta no peito, aquela obesa, esmaga e é difícil chutar-lhe a bunda.

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