O dia em que nos conhecemos, eu me lembro bem. Chovia como se a noite há muito precisasse tomar banho. Deixaram a torneira aberta lá em cima e a cidade ficou encharcada. Passei o dia inquieta porque sabia que você chegaria. Desconhecia como viria, a que horas bateria na porta ou se já tinha a chave. Tudo eram corredores e cadeiras de espera. Como se não me bastasse andar em círculos, passei a desenhar oitos nas paredes com a tinta invisível que trazia nos dedos. Passou-me a fome, o sono, o cansaço. Éramos eu e impaciência em um embate quase silencioso. Pareceram-me que anos tinham passado até que veio você deslizando. Todas as minhas expectativas foram superadas. Esqueci que não havia portas. Mesmo que houvesse, estariam abertas para te deixar passar.

Talvez você não recorde que naquele instante tinha se tornado meu maior objeto de curiosidade. Encarei-te com receio por longos minutos enquanto você se mexia desconfortavelmente. Não nos falamos, não nos tocamos. Você sequer parecia saber que eu estava ali. Até que, tremendo, estiquei meus descuidados dedos e você agarrou-se em todos aqueles que conseguiu alcançar. Senti que éramos a nós necessários.

Continuamos sem dizer qualquer coisa por muito, mas descobri nesse dia como nascem os amores e as pessoas.


Para o Lorenzo e por causa dele

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3 Responses so far.

  1. S2 pra esse texto. [E saca o novo layout do meu blog com a natasha ;D]
    - Liv.

  2. festluso says:

    Depois do texto, fui embriagar as palavras....

  3. Lindíssima essa declaração. *.*

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