As fronteiras existem desde que fizeram o outro lado da rua.
Aqui, você pode entrar sem visto. 
Meu peito é embaixada 
e eu toda estrangeira no teu corpo,
 toda turista em teu sorriso.

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Fui ao balcão pedir coragem.
Minha rua fica no 8º andar.
Moro no meio do quarteirão.
Quarto do corredor à esquerda.
200 gramas de cor, por favor. É para por na salada.
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Agora já posso rasgar o papel de presente e tirar o novo ano da caixa.
Tem cheiro e som de plástico destreinado, virgem, não amaciado.
Se toco, ele range. Acho graça.
O novo ano veio com o manual em uma língua que não domino chamado tempo.
Do tempo, só sei que há variáveis, subjuntivo e sujeito a definir.
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08


A gosto de céu, agosto.
Há gosto.
Ah, gosto...
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Coração tanto bate como alcança.
Inquieto, foi à rua e não voltou.
Tanto fez-me virar a esquina.
Já não vi sequer o rastro.
Foi bater em outro peito.
Fui bater outra porta.
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Falta.
Uma porta no armário.
Um novo calendário.
Um pneu, uma bicicleta.
Uma tampa pro perfume.
Uma cortina na janela.
Uma parte do lençol.
Falta.
Preencher as palavras cruzadas.
Guardar a roupa lavada.
Comprar um peso de porta.
Arrancar os papéis da parede.
Anotar amanhã na agenda.
Falta.
Cor.
Papel.
Tinta.
Toalha.
Efeito
é feito
Falta
Você.
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Talvez, tal vez.
E nada voltou a ser o que era.
Por causa do tal. Por causa da vez.
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Traz aqui, Glorinha, um copo d´água e um colo querente de corpo cansado.

Hoje eu tô só meio. Hoje tô só metadinha.

Desde madrugada rolo que nem cachorro doido na cama. Fui eu que cutuquei o sol dizendo que já era hora de levantar.

Mas olhe, Glorinha, que caminhei tanto que as tiras da sandália ficaram frouxas e as batatas das pernas se esticaram.

Pois vim. Vim de lá de longe porque tinha saudade. E saudade você sabe, Glorinha, ou a gente se desenrola ou é enrolado por ela. A danada me deu um laço tão bem dado que tava mesmo era sufocado. Sentou foi aqui, ó, em cima do peito. Tava que não conseguia me virar pros lados. Tive que vir.

E pra vir, Glorinha, tive que andar um tanto amarrado ainda. Até que chegando mais perto, os braços dela foram se desfalecendo, foram se deixando cair. Aí eu puder correr mais. Aí eu pude chegar direito. Pulei cerca de três cercas pra encurtar caminho, pra não ter conversa. Então cheguei assim, de coração e pulmão na mão.

Mas venha cá, Glorinha, com o copo d'água e esse colo. Ainda quero ficar inteiro e dessa tal de saudade não levo mais rasteira, nem laço, nem abraço.

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Um gosto de cidade na boca.

A cabeça avenida de ideias,

O coração esquina de aperto.

Para tudo na vida há concreto.

Dor a gente cura com asfalto.

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Ele é um dia de silêncio e todos os bons ruídos ao mesmo tempo.

É silêncio porque as melodias podem estar erradas, o tom pode desafinar e as notas não se entenderem.

É silêncio porque não sei dizê-lo e as palavras são desnecessárias.

Noite passada sonhei que amava e era tudo silêncio, como só ele sabe ser.

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