No último dia 26, conheci a saudade.
Ela que tão distante parecia, tão alheia, queria agora ficar-me por baixo da pele.
Tentei negar-lhe a intimidade. Não sou muito dada à aproximação com estranhos.
Ali mesmo, no aeroporto, dei-lhe as costas. Ordenei que não me seguisse até o ponto de ônibus.
Sentiu-se ultrajada. A perversa cravou-me as unhas no peito e então compreendi porque as trazia tão compridas. Arrastou-me até em casa e colocou-me no colo aquela noite para que chorasse todas as outras em sua companhia que ainda estão por vir.
Digo eu que não sei cantar a saudade, então conto.
Conto todos os cantos e todos os contos de cantos que cantam para a saudade contar. Canta ela, que eu não sei contar cantos. Conto eu que ela não sabe cantar contos. Cantamos e contamos a conta, o canto, o conto.
Digo eu que não sei cantar a saudade, então tanto e ela tonta.
Tudo se fazia tão maior por conta dos pequeninos fatos. O ranger do assoalho e a sutil alegria de saber que estavam os dois acordados.
Dançavam uma valsinha de bom dia enquanto as torradas aprontavam-se a qualquer gosto. Eram risadas frouxas com gosto de margarina de espantar as nuvens que teimavam em cobrir o dia.
Entrelaçados estavam por dentro, bem aqui dentro do lado de fora. Café da manhã e almoço. Lanche da tarde e jantar. Eram-se. Estavam-se. Bastavam-se.