Só sabia ler as linhas das mãos e falar da língua das íris. Aprendeu a queimar o fogo antes que este o fizesse primeiro. Era filha do fim da tarde, dizia, já que a noite ocupou-se de muitas crias. Tinha a idade dos seus sapatos e o nome das estações do ano que só conhecia de ouvir falar. Podia estar Outona às terças e Primavera aos domingos. Apaixonava-se todos os dias, pois, segundo ela, o amor só dura 24 horas, depois disso é outra coisa. Repetia isso tanto quanto assumir que era viciada em cheirar roupas lavadas e passadas. Ela que preferia curvas a retas. Ela que não fazia questão de relógios de pulso por não querer pendurar o tempo no corpo. Ela que era bem mais ordinária fora dos floreios rabiscados para si todos os dias antes de dormir.
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ordinária, sempre.