Cresci. Com as rédeas sempre orientadas no sentido de valorizar o meu e apenas admirar o do outro, sem mais desejos. Creio que tenha sido bem educada então, até certo ponto, até certo dia, para ser mais exata. Desejar o que era dela não me parecia certo ao mesmo compasso em que era atraente.
Descobri que a poda, as regras, os limites, só me fizeram mais atraída pelo alheio. O jeito como ela o tocava...quase pude ver o pálido, porém sedutor brilho que se deitava sobre todas as coisas que eu ardentemente ambicionava sem poder ter. Uma era aquela, a que ela tinha.
Frustrante.
Tinha já decidido a recolocar as rédeas e andar na linha do juízo. Porém, há dias em que não se pode lidar com os acontecimentos ou a iminência deles. Ela estava ausente. Por que motivos? Não me interessavam. A livre presença do meu desejo passou a me guiar tão aflitivamente que perdi o senso de ser. Apenas estava.
Quando pus-lhe as mãos era como se todas as minhas células sensitivas tivessem entorpecido ao mesmo tempo. Queria os olhos abertos para acender a memória visual algum momento depois, mas era tudo sensações. Rendi-me. O hálito quente do alheio e as torpes palavras que tentei murmurar...estúpida. Então não tinha agora o que queria? Pensei, por último, antes que todas as fontes luminosas do meu corpo e das formas desanimadas à volta se apagassem.
Desde pequena aprendi que, para ser educada, era preciso obedecer aos adultos porque eles sabiam claramente para onde conduzir a humanidade com as suas 397 regras de etiqueta e 5 dúzias de palavras polidas. Agora, que sou um desses adultos, às vezes desfaço-me das leis e brinco com o alheio quando ela está ausente. Algum mal se eu puder esconder tudo dentro da caixa?
Eu sou alheio. Cobiça-me. Cobiço-te. Cobiça-nos.
Aiiiinnn, me cobiça tb ;]