Ela chegou em casa naquele dia decidida. Dois anos e cinco meses, sendo os últimos três de ausência, desinteresse e infidelidade. Estava mesmo farta e cansada de se sentir sozinha ainda que casada.
Passara noites em claro pensando se o fim seria a decisão mais acertada. Tinha repassado mentalmente todos os minutos em que fora feliz com aquele homem. O dia em que o conheceu...ah...nunca se esqueceria do sorriso que ele tinha nos olhos. Era mesmo encantador, envolvente. Isso ela não poderia deixar de reconhecer.
Mas, ultimamente, ele andava ausente. Quando ela procurava, insistia em um contato, uma conversa, subitamente, ele ficava ocupado. Ela chamava atenção. Nada. Os desentendimentos tornaram-se frequentes, as discussões ganhavam argumentos cada vez mais estapafúrdios. Ela ficou então cansada e parou. Parou de tentar fazê-lo responder, reagir, e começou a pensar no divórcio. Se tinha entrado em um relacionamento, era justo pelo medo da solidão que sempre lhe foi tão insistente. Via-se mais solitária do que nunca. Pensou em ligar para algum amigo e desabafar, mas lembrou que não fazia sentido, já que a última vez que viu algum deles tinha mais de um ano. Sequer sabia se os números de telefone continuavam os mesmos e decidiu nem tentar. Primeiro, se resolveria com ele.
Depois das horas inquietantes no trabalho, seguiu para o ponto de ônibus revendo as razões que motivaram a sua decisão final. Na semana passada, achou o estopim de tudo: um recado. “Te quiero mucho, mi pollito”. Não havia como dizer que não era o que parecia ser. Seu espanhol não era lá essas coisas, mas aquilo era tão claro. Pediu parada e caminhou três ruas até alcançar o seu prédio. “Noite”. O porteiro acenou com a cabeça sem tirar os olhos da televisão. Ela seguiu para as escadas e já não pensava mais. Estava decidida.
Abriu a porta e sentou-se ainda com a bolsa na cadeira em frente ao computador. Esperou impaciente que a máquina inicializasse, conectou-se e começou a digitar:
“Então, é isso. Está acabado. Tenho tentado conversar com você nas últimas semanas, porém sem sucesso. O recado da colombiana na sua wall no Facebook foi o ápice de tudo o que já vinha acontecendo. Suas novas amigas do Orkut já podem comemorar quando você mudar o status para ‘solteiro’. Sinceramente, demorei a entender por que o nosso relacionamento tomou esse rumo tão desagradável, sendo que parecia tão incomum, tão diferente dos que eu já tinha vi [limite dos caracteres excedido]”
“...venciado. Mas aí, ainda que ele fosse tão diferente, não estava longe dos problemas comuns. Caiu na rotina. Horas ininterruptas de webcam, frases mal interpretadas. Porém, chegue à conclusão que o nosso principal problema foi de conexão. Portanto, aviso que a partir de hoje redefinirei o meu status no Orkut, Myspace, Facebook, Tagged e Hi5 para solteira. Oficializarei o divórcio via Twitter e desativarei as contas conjuntas de email. Acredito que apesar de tudo, nosso fim é amigável e não o bloquearei no Msn. F [limite dos caracteres excedido]”
“...oi bom ter te conhecido. Espero que um dia a gente ainda se conheça pessoalmente. Até a vista”
“Ah, te mando a aliança pelo Correio semana que vem”
[Ela parece estar offline e pode não receber suas mensagens]
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Caralho, naruna, essa foi a crônica que tu mandou pro Rezende?
Amei. *-*