Estranho é não achar que encontrei-te por acaso na esquina. Ainda que as vidas muitas vezes sigam reto, tive de dobrar à direta para ver o caminho. E disso não vou esquecer.
Era um domingo, daqueles que tem cara de domingo. As ruas estavam cheias de cães e gentes. Muitas dessas gentes com seus cães e muitos desses cães com suas gentes. Eu não tinha gente e nem cães. Andava contando os paralalepípedos da calçada na rua torta quando entortei-me.
Você parecia um pacote de biscoito recém-aberto, desses que dava vontade de lacrar de novo e parecer que nem foi mexido. Tinha uma embalagem brilhante e fazia barulho quando tocado. Se não tivesse vontade própria, poderia dizer que foi tirado de uma prateleira de supermercado.
Topar com um pacote de biscoito assim ao virar a esquina não é pra qualquer um. E que dure.
Odeio supermercado.